No mundo do café brasileiro, até o nome da planta do café é uma curiosidade. Tanto “cafeeiro” quanto “cafezeiro” se referem à planta do café (Coffea), mas qual é a diferença? No livro de 1934 O Café no segundo centenário de sua introdução no Brasil, do antigo Departamento Nacional do Café, o renomado filólogo brasileiro Manuel Said Ali Ida observou que ambos os termos são válidos, com cafeeiro sendo preferido por sua simplicidade, alinhando-se à tradição flexível de ortografia do português [1].
O sufixo -eiro/-eira é versátil em português. Ele pode denotar:
Profissões: carpinteiro
Origem: mineiro
Plantas: laranjeira, referindo-se ao que produz o fruto.
Vale notar que cafezeiro tem um uso único no português brasileiro ao também significar “produtor de café”, sendo o “z” a única letra que diferencia as duas palavras. Trata-se de um elemento conhecido como consoante de ligação, que ajuda na pronúncia ou na manutenção da harmonia. Assim como as consoantes de ligação, existem também vogais de ligação, como o “i” entre duas palavras, como em salicultura (cultivo de sal) [2].
Isso pode levar o aficionado brasileiro por café a questionar a palavra usada para o cultivo do café: cafeicultura. À primeira vista, o “i” entre café e cultura também pode parecer uma vogal de ligação. No entanto, trata-se de um composto padrão do português herdado do latim, semelhante a agricultura ou viticultura (cultivo da uva), em que o “i” faz parte do sufixo morfológico -cultura, garantindo uma pronúncia fluida.
Esse jogo linguístico reflete o “jogo de cintura” do Brasil, sua flexibilidade, e sua profunda conexão com o café, onde até as palavras carregam história. Na próxima vez que você tomar um café, pense no cafeeiro - ou seria cafezeiro? - que o trouxe à sua xícara.
Fontes
1 - O Café no segundo centenário de sua introdução no Brasil (p. 535)
2 - Ciberdúvidas: A palavra cafeeiro